Alergia alimentar é uma reação a determinadas substâncias presentes em alimentos. Qualquer alimento pode causar uma reação alérgica, mas alguns são mais frequentes, como ovos, leite, amendoim e frutos do mar.
A alergia alimentar geralmente começa na infância, mas pode se manifestar em qualquer idade, através de sintomas que podem surgir na pele (urticária, inchaço, coceira, eczema), no aparelho gastrintestinal (diarreia, dor abdominal, vômitos) e no sistema respiratório (tosse, rouquidão e chiado no peito). Normalmente a alergia à proteína do leite de vaca desaparece à medida que a criança cresce, porém alergias a nozes/amendoim, peixe e frutos do mar podem permanecer por toda vida.
Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV)
A Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) é a alergia mais comum entre as crianças, acontece principalmente até os 12 meses de idade, e as não amamentadas exclusivamente até os seis meses de idade. No Brasil, existem dados mostrando uma prevalência de 5,4% e uma incidência de 2,2% de APLV entre crianças até 24 meses de idade.
Na APLV acontece uma reação do sistema imunológico às proteínas do leite, principalmente à caseína (proteína do coalho) e às proteínas do soro do leite (alfa-lactoalbumina e betalactoglobulina). Os sintomas normalmente aparecem após a introdução do leite de vaca ou de fórmulas infantis que contêm leite de vaca na sua composição. Também pode acontecer, embora com menor frequência, de a criança em amamentação exclusiva ter reação ao leite e derivados consumidos pela mãe. Neste caso, a mãe deve fazer uma alimentação isenta de produtos lácteos, e, em alguns casos, o bebê é alimentado com uma fórmula especial para alergias.
Os sintomas de APLV podem ocorrer de imediato ou demorar até 10 dias para se manifestar, dependendo do seu mecanismo imunológico. Alguns apresentam manifestações imediatas e ocorrem até duas horas após o contato com o alérgeno, como eczema atópico, rinite alérgica, asma, ou casos extremos, a anafilaxia (Acho que vale um parêntese então… Anafilaxia (reação alérgica extrema logo após a exposição a algum alérgeno. Popularmente diz-se que a “garganta fecha” pela dificuldade de respirar, por isso demanda atendimento médico de emergência).
Outros casos podem apresentar sintomas gastrointestinais e manifestam-se tardiamente, ou seja, entre duas horas a alguns dias após o contato com a proteína do leite, como refluxo, vômitos, diarreia, sangue nas fezes e constipação. Também podem acontecer reações mistas, como esofagite, gastrite e gastrenterite, eosinofílicas, dermatite atópica e asma.
Em geral, a APLV desaparece até os 3 ou 4 anos de idade, porém não há um padrão sobre por quanto tempo a criança ou a mãe que amamenta precisam excluir o leite de vaca e derivados da sua alimentação, sendo necessária a avaliação individual de cada caso pelo pediatra e/ou nutricionista materno-infantil.
Por afetar a alimentação normal de bebês e crianças muito pequenas, a APLV tende a comprometer o crescimento e o desenvolvimento normais, podendo haver atrasos no ganho de estatura e peso. Por isso, diante de qualquer sinal de alergia, pais e responsáveis devem procurar imediatamente um pediatra para uma avaliação cuidadosa e eventual diagnóstico da doença, iniciando então os devidos cuidados alimentares.
Recomendações alimentares para APLV – direcionadas ao bebê ou criança diagnosticados, ou à mãe que amamenta o bebê com APLV.
- Indica-se a exclusão total do leite de vaca e seus derivados da alimentação: todos os tipos de queijo, requeijão, creme de ricota, iogurte, bebida láctea, creme de leite, manteiga, leite condensado, chocolate, sorvetes (exceto picolé de frutas à base de água) e pó para cappuccino. Mesmo pequenas quantidades destes alimentos podem desencadear os sintomas.
- O leite e seus derivados são fontes de cálcio, por isso é importante substituí-los por fórmulas especiais ou alimentos enriquecidos com cálcio, como alguns tipos de bebidas à base de soja. Outros alimentos que contêm cálcio são vegetais verde-escuros (couve-manteiga, brócolis, agrião, espinafre, rúcula), peixes e gema de ovo cozida.
- Cuidado ao consumir preparações caseiras ou industrializadas, pois o leite pode estar oculto em bolos, tortas, purê de batata, pães, maionese, molhos, sopas tipo creme, empanados, biscoitos e chocolates.
- Na dúvida, leia sempre e atentamente o rótulo de produtos industrializados para verificar a presença de leite na lista de ingredientes.
- Lactose, caseína, caseinato, proteína do soro do leite, lactoalbumina, beta-lactoalbumina, proteína hidrolisada e whey protein significam LEITE. A indicação de “sabor” ou “aroma natural de caramelo” também pode indicar a presença de leite no alimento.
- As inscrições “pode conter traços de leite” ou “produzido em equipamentos que processam leite” em rótulos de produtos industrializados indicam que o produto não deve ser consumido.
Sugestões de substitutos alimentares do leite e derivados:
ALIMENTO | SUBSTITUIR POR |
Leite de vaca (líquido ou em pó) | Leites vegetais: leite de soja, leite de amêndoas, leite de aveia, leite de arroz, leite de quinua Chá, café Sucos de fruta |
Manteiga | Creme vegetal (margarina) |
Creme de leite | Creme de leite de soja, creme de leite de aveia |
Requeijão, cottage, ricota | Patês à base de tofu (soja), maionese sem leite, patê de grão de bico |
Iogurte comum | Iogurtes vegetais, os mais comuns são à base de soja |
Sorvetes | Picolés de frutas (exceto coco) e sorvetes à base de água |
Capuccino em pó Achocolatados | Cacau em pó |
Cereais matinais que contenham traços de leite | Aveia em flocos, quinua em flocos, ou cereais que não contenham traços de leite (checar o rótulo) |
Pão de forma industrializado, bisnagas e pão de leite | Pão francês, pão ciabata, pão italiano Na dúvida, questione o local onde você compra os pães se eles são feitos com leite |
Bolos feitos com leite | O leite pode ser trocado por água nas receitas de bolos, na mesma quantidade |
Outras alergias alimentares
Ovo, peixes, frutos do mar, amendoim, castanhas, soja e até o feijão são alimentos que podem ser alérgicos a algumas pessoas, porém com menor prevalência em relação à APLV. Também são mais comuns em crianças, e podem ou não desaparecer com o passar dos anos.
Os sintomas podem variar de reações gastrointestinais, como vômitos, diarreia, dor abdominal, até espirros constantes, urticária, coceira, erupções e eczemas na pele. São sintomas relativamente comuns que podem ser associados a outras condições de saúde, o que pode atrasar o diagnóstico. As alergias alimentares também podem apresentar uma série de complicações respiratórias, como princípio de asma, falta de ar, dificuldade para respirar, tosse constante e chiados podem indicar que o organismo está reagindo a algum alimento.
Assim, sintomas que podem parecer uma simples rinite ou dermatite de contato podem indicar algo mais sério, sendo recomendado consultar um alergista para identificar a causa do problema, ou o pediatra para avaliação.
Da mesma forma que a APLV, o principal cuidado alimentar é a exclusão do alimento alergênico da dieta, e em caso de mulheres que amamentam, elas também devem seguir a mesma recomendação, ou, em último caso, suspender a amamentação para evitar que o bebê tenha contato com alimentos ingeridos pela mãe. A reintrodução pode ser feita aos poucos, sempre sob supervisão de um profissional, que poderá orientar como fazer este processo adequadamente, e observar se os sintomas persistem ou não, indicando a permanência ou remissão da alergia.
Uma das formas de entender se há ou não algum tipo de alergia, é fazer um diário alimentar anotando os alimentos consumidos e sintomas manifestados, quanto tempo depois da ingestão aquele sintoma surgiu, e quanto tempo durou. Também existem testes realizados em consultório, como o Prick test, que é capaz de identificar rapidamente se há ou não alguma alergia presente no paciente.
Este artigo não substitui a avaliação de um especialista, em caso de suspeita de alergias alimentares, procure um médico ou pediatra para uma avaliação adequada.
Escrito por:
Lia Kanae Okita Buschinelli / CRN-3 26.028
Nutricionista graduada pela Universidade de São Paulo (USP), com experiência internacional em nutrição e dietética na Universidade McGill, no Canadá.
Referências:
SHILS ME et al. Tratado de Nutrição Moderna na Saúde e na Doença. São Paulo: Manole, 2003.
Brasil. Ministério da Saúde. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Alergia à Proteína do Leite de Vaca. 2022.
Instituto Girassol. Guia Prático para o Tratamento das Alergias Alimentares. São Paulo: Instituto Girassol. 2006.