O uso excessivo de telas por crianças é uma preocupação constante para pais, cuidadores e inclusive especialistas. Trata-se de uma geração que já nasceu com a tecnologia na ponta dos dedos, por isso, colocar limites é tarefa cada vez mais desafiadora. Por outro lado, o uso excessivo das telas, seja em smartphones, tablets ou televisão, pode prejudicar o desenvolvimento infantil.
Segundo levantamento do Comitê Gestor da Internet no Brasil, de 2022, houve um crescimento significativo na proporção de usuários da rede na faixa de 9 e 10 anos. De 79%, em 2019, houve um aumento de quase 15 pontos percentuais, chegando a 92%, em 2021. Certamente, a pandemia de Covid-19 acelerou o processo, com a implantação de aulas on-line e o amplo acesso das crianças aos dispositivos eletrônicos.
Outro fator que contribui com o maior tempo das crianças em frente às telas é o home office. Isso porque pais e cuidadores que precisam trabalhar, muitas vezes, utilizam as telas como distração e entretenimento para os pequenos. E os dados mostram isso. Números do Youtube mostram que o vídeo mais visto da plataforma é de uma canção infantil, Baby Shark, e ultrapassa 8 bilhões de visualizações. No Brasil, o canal da Galinha Pintadinha registra mais de 34 mil inscritos, e seus vídeos ultrapassam 20 bilhões de visualizações.
Tempo limite de exposição e a tecnologia como aliada
Entendendo que a tecnologia pode trazer uma série de benefícios, os especialistas não sugerem abolir o uso de tela, mas reforçam a importância de usá-las com limites e conteúdos devidamente supervisionados por pais ou cuidadores. A Sociedade Brasileira de Pediatria indica que o tempo seja delimitado de acordo com sua faixa etária e de forma que não comprometa o desenvolvimento. Confira!
Tempo de tela recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria:
- Menores de 2 anos de idade: evitar exposição a telas;
- De 2 a 5 anos de idade: até uma hora por dia;
- De 6 a 10 anos de idade: de uma a duas horas por dia;
- De 11 a 18 anos de idade: de duas a três horas por dia.
Ou seja, com limites, a tecnologia pode ser importante ferramenta de aprendizado. Interações com fins pedagógicos, como jogos de memorização, concentração e até tutoriais de como desenvolver algo são considerados aliados no desenvolvimento infantil.
Soma-se a isso o fato de que as crianças têm mais facilidade de aprender algo com apoio visual. Dessa forma, a tecnologia possibilita o desenvolvimento de novas habilidades. O uso moderado das telas ainda favorece o raciocínio lógico, estimula a criatividade, melhora a autoestima e amplia repertório.
E, na prática, quais os impactos negativos do uso excessivo de telas?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, entre os principais impactos negativos do uso de telas estão:
Sono
A exposição de crianças a telas até duas horas antes de dormir afeta a qualidade do sono. Assim, pode haver aumento de estresse, irritabilidade, cansaço durante o dia e até insônia.
Visão
O excesso da exposição a telas pode provocar problemas de visão, como miopia, fadiga ocular ou síndrome visual do computador, que se trata de uma série de sintomas que afetam uma pessoa que fica muitas horas ininterruptas em frente a uma tela.
Saúde mental
Crianças e adolescentes que utilizam telas em excesso têm aumentado o risco de desenvolverem ansiedade, depressão, irritabilidade e outros problemas de saúde mental.
Desenvolvimento
O excesso de telas pode afetar ainda o desenvolvimento cognitivo e social das crianças, o que interfere diretamente na capacidade de aprendizado e na interação com outras crianças e adultos.
A SBP lista, ainda, outros problemas que podem surgir com o uso prolongado das telas:
- Dependência digital;
- Déficit de atenção e hiperatividade;
- Transtornos alimentares como sobrepeso, obesidade, bulimia e anorexia;
- Comportamentos autolesivos e indução ao risco de suicídio;
- Exposição precoce à sexualidade, bem como risco de abuso sexual virtual;
- Bullying e cyberbullying;
- Transtornos posturais;
- Uso de nicotina, bebidas alcoólicas, substâncias ilícitas e anabolizantes.
7 recomendações para evitar o excesso de telas por crianças e adolescentes
1. Promova apenas atividades lúdicas e afetivas até os dois anos de vida
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, os primeiros mil dias de vida da criança é o período em que seu cérebro está se desenvolvendo. Por isso, é nesta fase que devem ser estimulados hábitos e atitudes saudáveis para o resto da vida.
2. Após os dois anos, envolva os pequenos em atividades manuais
É nesta fase, até os 5 anos de idade que a criança apresenta um rápido desenvolvimento motor e de habilidades manuais, o que favorece outras atividade e brincadeiras. Além disso, até essa idade a criança ainda não sabe diferenciar fantasia de realidade, por isso as telas podem ser prejudiciais.
3. Após os cinco anos, valorize atividades que estimulem falar sobre o que sentem
Já com a comunicação mais desenvolvida, assim como o raciocínio lógico e os sentimentos, é nesta fase que as crianças podem ficar mais suscetíveis ao cyberbullying, o que pode causar transtornos emocionais e psicológicos.
4. Na adolescência, busque incentivar atividades que fortaleçam a inteligência emocional como atividades em grupo
Além dessa fase ser mais desafiadora para pais e cuidadores, do ponto de vista do estabelecimento de limites e da autoridade, a preocupação não é somente com a exposição a telas, mas também com os tipos de conteúdo consumidos. É preciso negociar e impor limites, assim como estimular a inteligência emocional.
5. Não permita acesso sem supervisão e proponha atividades em família
Por meio do monitoramento, é possível evitar que a criança ou adolescente se exponha ao cyberbullying, à sexualidade precoce, a conteúdos de cunho autodestrutivos, violentos e de distorção de imagem.
6. Incentive a prática de esportes e de outras atividades coletivas
O livre brincar para as crianças, assim como a prática de esportes desde a infância traz uma série de benefícios para o corpo e a mente. Promover estas atividades exige persistência e disponibilidade dos pais e cuidadores, porém, uma vez estabelecido o hábito, as telas tendem a ser deixadas em segundo plano.
7. Estabeleça regras e combinados
Ser autoritário, em especial com adolescentes, pode ter o efeito contrário ao esperado. É importante criar regras e combinados em conjunto, dando responsabilidade e, claro, recompensas, às crianças e adolescentes. Entender a rotina familiar e o que funciona para cada um é fundamental nesse sentido.
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